Uma menina de 9 anos é raptada, abusada sexualmente e morta. O corpo é colocado dentro de um saco, enrolado em um lençol e posto dentro de uma mala, que é deixada na rodoviária. O enredo até poderia ser de um filme de terror, daqueles que contam histórias de maníacos, psicopatas, serial killers. Poderia, mas não é. Infelizmente, trata-se de um roteiro real: um crime que deixou o Paraná perplexo e levou Curitiba aos noticiários nacionais. Passado um ano, o assassinato de Rachel Maria Lobo de Oliveira Genofre ainda é um enigma para a polícia. Nem as mil pessoas entrevistadas, 100 suspeitos checados e 40 exames de DNA feitos levaram a polícia a algum lugar – os esforços, até agora, não ajudaram a elucidar o crime e as investigações continuam na estaca zero.
De acordo com o secretário de Estado de Segurança Pública, Luiz Fernando Delazari, e segundo a delegada responsável pelas investigações do caso, Vanessa Alice, até o momento não há nada de concreto sobre o assassino que abreviou de forma trágica a vida de Rachel. A polícia não tem ideia sequer do local em que a menina foi morta. Sabe-se apenas que Rachel foi vista pela última vez no dia 3 de novembro de 2008, logo depois da saída do colégio. Tudo o que aconteceu depois disso ainda é um mistério.
Com a falta de uma condução escolar disponível, Rachel costumava fazer o trajeto colégio-casa e casa-colégio todos os dias sozinha, de ônibus. Naquele dia, por volta das 17h30, como de costume, saiu da escola em companhia de um colega do Instituto de Educação, caminhando pela Rua Voluntários da Pátria. O garoto se despediu, entrou na loja dos pais, e Rachel seguiu em direção à Praça Rui Barbosa, onde deveria tomar o ônibus para ir para casa, na Vila Guaíra. Mas a menina nunca mais foi vista com vida. No ponto de ônibus da linha Dom Ático, na Praça Rui Barbosa, jamais apareceu, segundo passageiros costumeiros e o motorista.
O que aconteceu no caminho ainda é um grande ponto de interrogação para a polícia. Nem as câmeras das lojas da Rua Voluntários da Pátria puderam revelar algo – o que leva a crer, segundo a delegada, que o criminoso tenha levado a menina de carro e, neste caso, cometido o crime em um bairro distante.
O que se sabe é que, naquela mesma noite do desaparecimento, em algum lugar, Rachel lutou contra a morte, nas mãos de um assassino cruel, que abusou, mordeu e até mesmo cortou os cabelos da menina, que horas atrás carregava orgulhosa um troféu – um prêmio pela primeira colocação em um concurso de redação da Biblioteca Pública. O laudo da necropsia revela que Rachel morreu asfixiada entre as 20 horas e meia-noite do dia de seu desaparecimento.
Na noite seguinte, o assassino, então, levou o corpo de Rachel, já envolto em um saco plástico e um lençol, dentro de uma mala, até a Rodoferroviária de Curitiba. Depositou a mala embaixo de uma escada, próximo a um local em que índios dormiam improvisadamente. E foi-se. Passou despercebido em um terminal de ônibus por onde circulam diariamente cerca de 35 mil passageiros. O corpo foi descoberto na madrugada. Nenhuma impressão digital, nenhuma pista, nenhuma testemunha.
Desde então, solucionar o assassinato de Rachel Genofre vem se tornando um exercício desafiador para a polícia. “É extremamente desafiador. O criminoso cometeu o crime de uma forma astuta e inteligente, sem deixar sinal, nem rastro”, afirma Delazari. “Apesar de ter sido um local público, não tem testemunhas. O que é público deixa de ser público porque não há nenhum tipo de testemunha que possa dizer o que aconteceu.”
De acordo com a polícia, toda a rotina de Rachel, os locais que ela frequentava, a biblioteca, as redondezas da escola, a empresa do ônibus que ela pegava e os funcionários foram checados. Segundo a delegada, pessoas do relacionamento da menina, da escola, coleguinhas, pais de coleguinhas, comerciantes da região, vendedores ambulantes, pessoas conhecidas da mãe, conhecidas do pai, da família, do avô, do tio, entre outros, foram também ouvidos. “Foi feito um trabalho de fôlego, mas ainda não temos nenhuma prova que possa apontar o autor do crime”, diz Delazari.
Material genético
Com provas materiais escassas, a única prova concreta contra o autor é o material genético que ele deixou na menina. Desde o início das investigações, os suspeitos, sejam conhecidos da família ou mesmo pedófilos desconhecidos, vêm sendo submetidos ao exame de DNA. Até agora, todos deram negativo. É que, sem uma outra pista concreta que leve ao autor do crime, realizar quase que aleatoriamente exames de DNA fazem da tarefa de solucionar o caso a mesma coisa que procurar uma agulha em um palheiro.
No momento, a polícia trabalha com três linhas de investigação que são mantidas em sigilo, segundo a delegada Vanessa Alice, para não atrapalhar os trabalhos. Contra estes suspeitos que estão sendo investigados agora, porém, não há provas seguras.
Delazari admite que o tempo é inimigo da perfeição nestes casos. “Quanto mais passa o tempo, mais complicado fica de encontrar o criminoso. Isso é indiscutível”, diz. Mas ainda há esperanças, segundo ele. “A investigação não está esgotada. Temos esperança e desejo de encontrar esse criminoso o mais rápido possível”, afirma Delazari. “Nós temos uma equipe dedicada a esse caso de forma praticamente exclusiva”, afirma. “Enquanto houver investigações a serem realizadas, nós continuamos trabalhando”, completa a delegada.
Serviço: Informações e denúncias que possam ajudar a polícia a solucionar o caso podem ser passadas pelo telefone 181.
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