De um dia para o outro, a vida deles virou de ponta cabeça. Eles passaram a ser protagonistas de uma história digna de um filme de terror. Tiveram a filha de 9 anos brutalmente assassinada, foram julgados pela opinião pública e precisaram aprender a viver com a dor da perda e da incerteza, já que o “inimigo” podia – e ainda pode – estar por perto. “Você não confia em mais ninguém. Até fazer o exame de DNA, você não confia no amigo, no parente”, conta Michel Genofre, pai de Rachel Genofre, assassinada em novembro de 2008. A mãe de Rachel, Maria Cristina Lobo Oliveira, viu a filha com vida pela última vez há exatamente um ano. Em entrevista à Gazeta do Povo, ela fala sobre sua luta para continuar “acordando todos os dias” e de momentos difíceis – como quando chegou a ser internada em um hospital psiquiátrico para tratamento.
Como lidar com o fato de, após um ano, ainda não haver uma solução para o caso?
É muito complicado. A todo instante estou querendo saber quem fez isso. É complicado porque pode ser alguém que pode estar em nosso convívio ainda. Mesmo assim, tudo o que sabemos passamos para a polícia, mas eu não consigo dizer, sobre um conhecido meu: “Esse daqui vai ser”. Simplesmente não consigo.
Houve algum momento nas investigações em que você achou realmente estar diante do verdadeiro autor do crime?
Houve uma pessoa. Pelas mentiras que inventou, as denúncias contra ela, tudo o mais, chegamos a pensar “é ele”. Mas ele fez o DNA e foi descartado como suspeito.
Como você avalia o trabalho da polícia?
Infelizmente, não há nada que possa limitar o trabalho da polícia em cima de alguma coisa. É tudo muito vago. Mas sei que eles têm várias linhas de investigação e estão trabalhando de forma incansável.
Rachel é descrita como uma menina comunicativa. Você acha que essa característica dela pode ter ajudado o criminoso a criar um elo com ela, sem o conhecimento da família?
Pode ser que alguém tenha criado um vínculo com ela sem o nosso conhecimento. Ela normalmente chegava em casa e falava: “Ah, hoje eu vim conversando com não sei quem no ônibus, uma pessoa assim e assim”. Eu dizia para ela: “Filha, toma cuidado, não pode conversar com pessoas estranhas”. Ela escutava e, às vezes, fazia algumas perguntas.
A Rachel ia e voltava sozinha de ônibus. Você mudaria isso se pudesse voltar no tempo?
Mudaria. Eu já queria tirá-la do colégio por isso. A condução que eu conseguia só ia até a casa da minha irmã. Até a minha casa não havia. Foi falta de opção minha, mas era o melhor colégio em que podia colocar a minha filha. Eu estava lutando para conseguir um futuro melhor para ela, para que ela entrasse na Universidade Federal, como era o sonho dela.
O que mudou na sua rotina?
A família resolveu se reunir mais. Nós nos mudamos e alugamos a casa em que morávamos antes. Estou morando com a minha irmã e meu filho, mas não mudei o local de trabalho. De vez em quando, eu ainda passo em frente à casa onde eu morava. As lembranças maravilhosas ainda estão ali.
Quais foram os momentos mais difíceis desde que você decidiu retomar a sua rotina?
No dia 8 de maio eu fui internada em um hospital psiquiátrico. Fiquei 30 dias internada, e depois fiquei mais 15 fazendo hospital-dia, por conta da depressão. Eu já estava fazendo acompanhamento psicológico e psiquiátrico. Minha irmã achava que eu estava piorando cada vez mais. Eu não conseguia acordar para ir trabalhar, chegava atrasada quase sempre. Em casa, eu só ficava dormindo: chegava e já dormia. Essa era a minha fuga. Minha irmã resolveu conversar com a minha psicóloga, e elas decidiram que eu teria de me internar. Eu não queria, disse para elas: “Deixa do jeito que eu estou”. Mas foi bom. Ajudou a amadurecer a ideia do que tinha acontecido, consegui encarar, tentar reconstruir. Eu fico em pé hoje por causa do meu filho. Mas houve uma hora em que eu não tinha forças para isso. Depois que eu me internei, as coisas melhoraram um pouco e a gente está batalhando.
Você pensa em ter mais filhos?
Não (balançando a cabeça)... É muito perigoso.
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