A polícia já tem o retrato falado de um suspeito de ter assassinado a menina Rachel Maria Lobo Oliveira Genofre, 9 anos, cujo corpo foi deixado dentro de uma mala, embaixo de uma das escadas da Rodoferroviária de Curitiba.
Várias equipes, de diferente delegacias, estão empenhadas no caso e passaram o dia de ontem em diligências, mantidas em rigoroso sigilo. Para a maioria dos policiais envolvidos nas buscas, não há dúvida de que se trata de um matador em série e que já cometeu crime semelhante.
As fitas de vídeo captados pelas câmaras instaladas no centro de Curitiba - no trajeto feito pela menina entra o Instituto de Educação e a Praça Rui Barbosa - e as da câmera instalada na Rodoferroviária, estão sendo submetidas a análises, em busca de pistas.
O retrato falado foi confeccionado a partir de informações prestadas por um comerciante que, ao tomar conhecimento do caso, lembrou ter vendido uma mala igual, na tarde de terça-feira, por volta das 16h. Ele procurou a polícia e descreveu o suspeito.
A imagem, confeccionada pelo Instituto de Criminalística, está sendo comparada com a de indivíduos que teriam envolvimento ou seriam suspeitos de participação em assassinatos de crianças.
A mala foi vendida em um comércio próximo da Rodoferroviária. Uma fonte, que participa das diligências, informou que o assassino demonstrou conhecer bem as dependências do terminal de ônibus, e fez questão de abandonar o corpo num local público e conhecido, para desafiar a polícia.
O detalhe de deixar a mala com o corpo no lugar onde índios costumam pernoitar (embaixo da escada do setor estadual), dentro da rodoviária, também seria um indicativo de que pretendia fazer dos índios os suspeitos do crime.
“É um assassino frio, calculista, que brinca com a polícia e que, se não for preso, vai matar de novo”, assegurou a fonte. É possível que hoje, caso não o crime não seja desvendado, o retrato falado seja divulgado pela polícia. O silêncio imposto às equipes que investigam o assassinato também seria indicativo de que os policiais estão perto do matador.
Lençol
Outra pista que está sendo apurada é a procedência dos dois lençóis, na cor verde, usados pelo assassino para enrolar o corpo de Rachel. As peças são comuns, não têm qualquer logomarca que indique ser de hotel, motel ou estabelecimento semelhante.
Diante disso, não é descartada a hipótese de que o criminoso tenha levado a menina para sua própria casa, ficado com ela da tarde de segunda-feira (quando a garota sumiu, após sair do colégio) até a noite de terça-feira, quando a abandonou já morta.
Um pé de meia, o tênis, a calça e a calcinha de Raquel não foram encontrados. Também há suspeita de que o assassino ainda abandone estas peças em outro local - talvez de grande movimento - para desafiar a polícia outra vez.
Todos os objetos apreendidos na Rodoferroviária permanecem no Instituto de Criminalística, para análises e buscas de impressões digitais, embora num crime premeditado dificilmente o matador cometa o erro de deixar pista tão visível.
Marcelo Vellinho
Átila Alberti |
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A chuva não impediu que muita gente fosse se despedir da garota. |
A chuva que caiu na manhã de ontem, em Curitiba, não impediu que dezenas de pessoas prestassem a última homenagem a Rachel Maria Lobo Oliveira Genofre, 9 anos, sepultada no Cemitério do Santa Cândida, às 10h30.
O clima foi de comoção e inconformismo pelo brutal assassinato da garota. Ao final, alunos, professores e funcionários do Instituto de Educação Erasmo Pilotto, onde Rachel estudava, prometeram fazer uma caminhada em protesto pela violência.
Antes de carregar o caixão da filha, Michael Genofre, bastante emocionado, falou sobre Rachel. “Minha filha era um amor, meu maior tesouro. Todo mundo gostava dela, era carinhosa e inteligente. Essa é nossa despedida, agora ela já está em um lugar melhor.”
Ele pediu a colaboração da população para ajudar a polícia a localizar o responsável pela barbárie. “Quem tiver qualquer informação que possa ajudar, por favor, entre em contato com a polícia. Esperamos encontrar o quanto antes a pessoa que fez isso, se é que podemos chamar de pessoa”, revoltou-se. O telefone da Delegacia de Homicídios, que coordena as investigações, é (41) 3363-1518 ou 3363-0102.
Sobre o crime, Michael não quis falar e lembrou que a polícia está trabalhando em sigilo. Ele apenas comentou que Rachel não costumava passar muito tempo sozinha na internet e que acessava o Orkut quando estava com ele ou com a mãe.
O fato de Rachel andar sozinha de ônibus para ir ao colégio e voltar para casa, o pai justificou: “Pelo trajeto que ela fazia, só ficava duas quadras na rua. Isso podia ter acontecido com qualquer pessoa, de qualquer idade”, concluiu.
Protesto
Colegas de Rachel e outros alunos do Instituto de Educação informaram que, na manhã de hoje, haverá uma passeata pela paz. “Queremos mobilizar a sociedade e pedir justiça”, disse Flavia, amiga da vítima.
Os manifestantes sairão da frente do colégio, na Rua Emiliano Perneta, e seguirão pela Rua XV de Novembro até a agência dos Correios, na Praça Santos Andrade. Os alunos do turno da manhã serão dispensados após o intervalo das aulas. De acordo com informações da diretoria do colégio, todos estão convidados a participar da manifestação.
ASSASSINATO PROVOCA COMOÇÃO NACIONAL
Giselle Ulbrich
O perfil de Rachel Genofre foi excluído do site de relacionamentos Orkut, na madrugada de ontem. Desde então, mais de dez comunidades já foram criadas por usuários diversos, homenageando a menina.
Até mesmo comunidades oficiais de um programa de televisão (CQC da Bandeirantes) e do cantor de rock Supla abrem suas páginas com menções de luto pela garota.
Como uma das suspeitas é a de que Rachel tenha conversado ou marcado encontro com alguém pela internet, o computador que ela usava está no Núcleo de Repressão aos Crimes Cibernéticos (Nuciber) para análise. O núcleo trabalha em apoio à Delegacia de Homicídios e às demais unidades policiais envolvidas nas investigações.
Interrupção
Antes da exclusão, verificou-se que Rachel tinha trocas constantes de mensagens com amigos e familiares há pelo menos dois anos, sem falhar uma semana sequer. Mas, na metade de setembro, as mensagens cessaram. Desde então, ela não postou mensagens e não recebeu recados.
Não se sabe se alguém, ou a própria Rachel, apagou as mensagens ou se nenhum recado foi trocado nesse período. Depois de um mês e meio de silêncio, um familiar escreveu para Rachel, perguntando por que ela andava “sumida” (sem mensagem pelo Orkut). A mensagem foi postada no dia 4 de novembro, quando a menina já estava desaparecida.
De acordo com a assessoria de imprensa da Prefeitura, a Urbanização de Curitiba (Urbs) instalou câmeras de seguranças somente nos pontos de táxis da rodoviária, uma na ala estadual e outra na interestadual.
A Urbs não revelou quantas são essas câmeras, mas garantiu que elas foram colocadas a pedido dos taxistas, para coibir assaltos. Desde junho, uma licitação está aberta, para definir a empresa que irá colocar 96 câmeras por todo o terminal. A licitação se encerra em dezembro e já em janeiro os equipamentos devem começar a ser instalados.
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